terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Os agentes econômicos e suas relações

1. Conceito de Mercado Financeiro

A palavra mercado remonta a períodos anteriores à existência da moeda e o seu significado original designa o local onde as pessoas se encontram para comprar, vender ou trocar mercadorias. Com o passar do tempo, o termo mercado foi evoluindo para um conceito de conjunto de elementos envolvidos no comércio de determinado produto: produtores, consumidores, intermediários, regulamentos, preços etc. Hoje, quando falamos no mercado do caju, por exemplo, estamos nos referindo às pessoas que produzem (e vendem) o caju, àquelas que apreciam e compram esse produto (consumidores finais), além de outros que participam de todas as transações que envolvem a fruta: os atravessadores, os doceiros, por exemplo. Além disso, o mercado de caju compreende também os preços praticados, os mecanismos que envolvem as transações, a regulamentação etc.

Nessa linha de raciocínio, o mercado financeiro nada mais é do que um conjunto de mecanismos voltados para a transferência temporária de recursos entre os agentes econômicos. O produto do mercado financeiro é o uso do dinheiro no tempo, proporcionando capacidade de consumo, ou seja, o poder de compra que a posse do dinheiro proporciona.

2. Agentes econômicos

O papel essencial do mercado financeiro é viabilizar e operacionalizar os fluxos de financiamentos na economia, no qual interagem os agentes econômicos.

Um agente econômico é um indivíduo, conjunto de indivíduos, instituição ou conjunto de instituições que, através das suas decisões e ações, tomadas racionalmente, influenciam de alguma forma a economia. Se levarmos em conta apenas o ambiente interno (numa economia fechada, por exemplo), podemos considerar a existência de 3 grupos de agentes econômicos: as famílias, as empresas e os governos.

O conceito de famílias engloba todos os tipos de unidades domésticas, unipessoais ou familiares, com ou sem laços de parentesco, empregados ou não, que formam o potencial de recursos para o processamento de atividades produtivas e os que recebam transferências pagas pela previdência social ou outras entidades.

As empresas, por seu turno, são os agentes econômicos para os quais convergem os recursos da produção disponíveis. Reúnem todas as unidades produtoras dos setores primário (agricultura), secundário (indústria) e terciário (comércio e serviços). As empresas reúnem, organizam e remuneram os fatores de produção fornecidos pelas unidades familiares.

Em tese, a função dos governos é ampliar o bem-estar social. Para atingir seu objetivo, os governos precisam das famílias – por isso contratam diretamente o trabalho de unidades familiares – e dos produtos e serviços das empresas, para o que adquirem uma parcela deles em prol da sociedade. As receitas dos governos resultam do sistema tributário, e suas despesas são os pagamentos efetuados em forma de salários e em fase do fornecimento de bens e serviços à sociedade.

3. Renda, poupança e investimento

Entender os conceitos de renda, poupança e investimento é fundamental para a compreensão do mercado financeiro e para perceber as engrenagens que movimentam o sistema financeiro. São conceitos econômicos primários, mas extremamente importantes, uma vez que o crescimento de um país decorre do esforço de poupança e investimento associado a cada nível de renda.

Por definição econômica, renda é a soma dos rendimentos pagos aos fatores de produção (terra, capital e trabalho) para obter o produto num determinado período. Renda pessoal disponível é a renda com que as famílias contam para poderem consumir. Uma parte da renda será utilizada na aquisição de bens e serviços de consumo, montante que denominaremos consumo. Os itens de consumo podem ser divididos em três componentes. O primeiro é formado pelos bens não duráveis de consumo, como alimentos e roupas, cuja vida útil é curta. O segundo componente, denominado de serviços de consumo, compreende as despesas feitas com aluguel, médicos, barbeiro, cinemas, transporte etc. O terceiro e último componente do consumo corresponde aos bens de consumo duráveis, como eletrodomésticos em geral, automóveis etc., cuja característica é ter vida útil muito maior do que os bens não duráveis de consumo.

Em uma economia equilibrada, parte-se do princípio de que a renda recebida não é totalmente utilizada para o consumo. Assim, após o consumo resta outra parte da renda, que corresponde à poupança realizada pelos agentes. Então, poupança é a parte da renda pessoal disponível que não foi consumida. Poupar é acumular valores no presente para utilizá-los no futuro, o que geralmente envolve mudança de hábitos, pois requer uma redução nos gastos pessoais e familiares. Reduzir despesas pode significar desde simples cuidados para evitar o desperdício até o esforço, por vezes árduo, no sentido de conter gastos. Além disso, poupar exige a avaliação objetiva das despesas, a fixação de metas e, principalmente, muita persistência, a fim de manter-se economizando pelo tempo necessário até que sejam alcançados os objetivos que motivaram a poupança.

Investimento é o emprego dos recursos poupados, próprios ou de terceiros, para ampliar a capacidade produtiva e, no futuro, aumentar a renda. Investir, portanto, é empregar o dinheiro poupado em aplicações que rendam juros ou outra forma de remuneração ou correção. O investimento é tão importante quanto a poupança, pois todo o esforço de cortar gastos pode ser desperdiçado quando mal investido.

4. As relações entre os agentes econômicos

Os agentes econômicos relacionam-se entre si na forma da Figura 1:

Agentes econômicos

  A renda e o comportamento de consumo dos envolvidos nesse relacionamento não apresentam um caráter uniforme. Assim sendo, sob a ótica orçamentária, podemos agrupar esses agentes econômicos em três grupos.

O primeiro grupo é constituído pelos agentes econômicos que têm orçamento equilibrado, ou seja, seus gastos com bens e serviços são iguais ao montante da renda recebida. Não apresentando excedentes de renda, a poupança desse grupo é nula.

O segundo grupo é formado pelos agentes econômicos que apresentam orçamento superavitário, isto é, que têm excedente de renda, porque a renda é maior que o consumo e, assim, dispõem de poupança. Os agentes econômicos superavitários deparam-se com a seguinte pergunta: como aplicar os recursos excedentes provenientes de poupança não investida? Os agentes econômicos que têm orçamento superavitário são poupadores.

O terceiro grupo é composto pelos agentes econômicos que têm orçamento deficitário, que não dispõem de excedente de renda, porque o consumo é maior que a renda, e por isso necessitam de crédito para complementar suas necessidades de consumo. No caso dos agentes econômicos deficitários, a questão é: como obter os recursos adicionais necessários à viabilização de seus projetos de investimento ou à satisfação do consumo? Os agentes econômicos que têm orçamento deficitário são tomadores. Esse grupo tem a preocupação em como e a que custo obter os recursos necessários para cobrir suas necessidades.

No caso daqueles que têm recursos sobrando, o que fazer com esses excedentes? E no caso dos que precisam de dinheiro para fechar o orçamento, onde buscar esses recursos? Como se observa, os problemas dos agentes econômicos superavitários e deficitários são complementares. Como e onde essas pessoas podem se encontrar? É no mercado financeiro que eles se encontram para buscar soluções.

Como qualquer mercado, o mercado financeiro, também tem suas figuras básicas, que são os compradores (tomadores de empréstimos), vendedores (poupadores) e os intermediários (instituições financeiras).

Quando poupam, as pessoas deixam de utilizar a capacidade de consumo do dinheiro no momento, acreditando que essa atual capacidade de consumo trará maiores benefícios no futuro, seja frente a algum imprevisto, para economizar dinheiro e comprar algo de maior valor ou simplesmente para sustentar a família na aposentadoria. Quando os poupadores optam por vender suas mercadorias, se transformam em investidores.

No sentido econômico, investir significa a aplicação de capital para produzir bens e serviços, num sentido mais amplo significa direcionar recursos para a obtenção de juros ou lucros. Os poupadores, portanto, são os agentes econômicos superavitários dispostos a transformar suas disponibilidades monetárias em ativos financeiros, através da oferta de recursos, sujeitando-se aos riscos de mercado, com a finalidade de obter retornos reais positivos. São os criadores de fundos para o financiamento do crescimento econômico.

Os tomadores – aqueles que adquirem o produto comercializado no mercado financeiro – são os industriais, comerciantes, pessoas físicas etc. que, necessitando de dinheiro para utilizar o seu poder de compra, dispõem-se a pagar por essa utilização. São os agentes econômicos deficitários, que demandam recursos e estão dispostos a financiar seu déficit a custo de mercado.

5. Intermediação financeira

É função dos intermediários financeiros efetuar a ponte entre os dois segmentos. Ao concentrar os recursos dos agentes superavitários, os intermediários financeiros viabilizam a ampliação das escalas de produção, financiando investimentos de maior vulto.

A existência do sistema financeiro está condicionada a imperfeições de mercado, tais como falhas no canal de transmissão de informação entre os agentes econômicos. As trocas entre os agentes tornam-se mais onerosas quanto mais graves são as falhas de mercado, podendo, como caso limite, inviabilizá-las. A intermediação financeira surge, então, como um mecanismo para minimizar tais imperfeições, facilitando a alocação dos recursos entre poupadores e tomadores de empréstimos e, dessa forma, transmitindo aos investimentos produtivos os recursos necessários, conforme Figura 2.

Intermediação financeira

Quando o mercado financeiro é eficiente, a produção e o consumo de mercadorias são estimulados, as empresas têm acesso a recursos mais baratos, podendo investir mais na produção e, consequentemente, gerar mais lucros, que serão reinvestidos dando continuidade a um círculo virtuoso que ocasiona a geração de mais riqueza, maior oferta de empregos e melhores salários. As pessoas têm acesso a financiamentos que possibilitam a aquisição de mais bens, aumentando o consumo.

Quando a sociedade não consegue gerar um excedente de produção ou este não é reinvestido, obstruindo a transformação da poupança em investimentos, a geração de bens e serviços é reduzida e o bem-estar material das pessoas diminui.

A circulação do dinheiro tem a capacidade de aumentar ou diminuir a produção de bens e serviços, aumentando ou diminuindo o bem-estar material das pessoas, por esse motivo o mercado financeiro recebe uma atenção especial do governo que, através da atuação das autoridades financeiras interfere na economia. Um sistema financeiro eficiente é aquele que tem capacidade de viabilizar a realização de financiamentos de curto, médio e longo prazos, sob condições de minimização de risco e atendendo aos desejos e necessidades dos agentes superavitários, que determinam a oferta de recursos, e dos agentes deficitários, que materializam a demanda por recursos.

Teoria da Intermediação Financeira

Utilizar os serviços dos intermediários financeiros apresenta diversas vantagens, sendo de se destacar:

1. A economia de escala. Em razão da quantidade de operações realizadas, os intermediários financeiros podem atuar com custos menores do que aqueles incorridos por tomadores e poupadores se operassem isoladamente.

2. A especialização. Os intermediários financeiros são especialistas na compra e venda de ativos e passivos financeiros, o que lhes permite criar redes de relacionamento e aprimorar análises de riscos, previsões e conhecimentos de aspectos cada vez mais complexos.

3. A eficácia alocativa. Os intermediários financeiros podem selecionar melhor os empreendimentos mais atrativos, com critérios de rentabilidade e retorno.

4. A diversificação. Os intermediários financeiros reúnem grandes volumes de poupança ou dividem alternativas de investimento em pequenos volumes, com maior flexibilidade de prazos e taxas de juros.

5. Maior segurança e diluição de riscos. Os intermediários financeiros assumem os riscos decorrentes de roubos, acidentes e inadimplência de seus tomadores, que podem ser diluídos em razão da grande quantidade de clientes.

6. Liquidez. Os intermediários financeiros podem oferecer alternativas de captação e aplicação de recursos mais rapidamente do que os agentes conseguiriam por conta própria.

7. Gestão de riscos. Ao oferecer alternativas de captação e aplicação de recursos aos seus clientes, os intermediários financeiros reduzem a exposição a riscos.

Um comentário: