terça-feira, 6 de março de 2012

O mercado financeiro e seus segmentos

1. Divisão do mercado financeiro

Se você for à feira, irá reparar que há uma organização no agrupamento das barracas: num setor, você encontra as frutas; em outro, as verduras e os legumes. Carnes estão de outro lado. Um pouco mais além, você encontra as barracas de peixes e mariscos. Essa organização tem por objetivo facilitar o processo de compra do consumidor.

No mercado financeiro não é diferente. Ele também é dividido em setores, ou segmentos, de acordo com o tipo de produto e de cliente (embora você não consiga enxergar muros ou cercas). Para fins didáticos e conceituais, o grande mercado financeiro costuma ser dividido em 4 grandes segmentos:

a) mercado monetário;

b) mercado de capitais;

c) mercado cambial; e

d) mercado de crédito.

2. Mercado monetário

O mercado monetário é o segmento do mercado financeiro onde são efetuadas operações de curto e curtíssimo prazos, destinadas a atender necessidades imediatas, principalmente das instituições financeiras.

É nesse mercado que os agentes econômicos e os próprios intermediários financeiros suprem suas necessidades momentâneas de caixa, por meio das operações com reservas bancárias. É também o mercado onde se concentram as operações para controle da oferta de moeda e das taxas de juros de curto prazo, com vistas a garantir a liquidez da economia, através da colocação, recompra e resgate de títulos da dívida pública de curto prazo.

Os principais participantes do mercado monetário, além do Banco Central do Brasil, são as instituições financeiras captadoras de depósitos à vista. As demais instituições autorizadas a emiti e/ou adquirir depósitos interfinanceiros também participam do mercado monetário.

Em decorrência do recolhimento compulsório imposto pelo Banco Central do Brasil sobre os depósitos à vista e a prazo, as instituições detentoras de conta de reservas bancárias são obrigadas a manter um nível mínimo de recursos nessa conta. Para atender à exigibilidade do compulsório, as instituições financeiras trocam reservas bancárias por meio de operações compromissadas com títulos públicos federais ou por meio da negociação de depósitos interfinanceiros (DIs). Se por um lado os bancos não podem apresentar saldo na conta de reservas bancárias insuficiente para atender ao recolhimento compulsório, por outro também não é interessante manter saldos excessivos, uma vez que esse excesso normalmente não é remunerado pelo Banco Central e representaria a perda da possibilidade de direcionamento desses recursos para operações lucrativas. Dessa forma, tanto as instituições com reservas insuficientes quanto as que apresentam reservas excedentes têm interesse em participar do mercado monetário.

O Banco Central atua no mercado monetário para ajustar a liquidez da economia, valendo-se de três instrumentos: recolhimento compulsório, operações de assistência de liquidez (redesconto) e operações de mercado aberto (open market). Nas operações de mercado aberto, o Banco Central opera diretamente com 22 instituições credenciadas, os chamados “dealers” do mercado aberto, que intermedeiam o relacionamento da autarquia com as demais instituições do mercado. Os “dealers” são selecionados por critérios de desempenho nos mercados primário e secundário de títulos públicos. Atualmente, há 12 dealers, dos quais dez são bancos e dois são corretoras ou distribuidoras independentes. O desempenho de cada instituição é avaliado a cada seis meses, e aquelas com o pior desempenho são substituídas.

INSTITUIÇÕES CREDENCIADAS – DEALERS

Período de Avaliação: 10/02/2012 a 31/07/2012

Banco Bradesco S.A.

Banco BTG Pactual S.A.

Banco Citibank S.A.

Banco do Brasil S.A.

Banco J. P. Morgan S.A.

Banco Santander (Brasil) S.A.

Banco Votorantim S.A.

Caixa Econômica Federal

CM Capital Markets Corretora de Câmbio, Títulos e Valores Mobiliários Ltda.

HSBC Bank Brasil S.A. – Banco Múltiplo

Itaú Unibanco S.A.

Renascença Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários Ltda.

Tabela 1 – Instituições credenciadas para atuar como dealers do Banco Central e do Tesouro Nacional

3. Mercado de capitais

O mercado de capitais é um sistema de distribuição de valores mobiliários que visa proporcionar liquidez aos títulos de emissão de empresas e viabilizar seu processo de capitalização. O mercado de capitais tem como objetivo canalizar recursos de médio e longo prazo para empresas, através das operações de compra e venda de títulos e valores mobiliários, efetuadas entre empresas, investidores e intermediários. A maior parte dos recursos financeiros de longo prazo é suprida por intermediários financeiros não bancários.

No mercado de capitais, os principais títulos negociados são os representativos do capital de empresas (as ações) ou de empréstimos tomados, via mercado, por empresas (debêntures conversíveis em ações, bônus de subscrição e “commercial papers”), que permitem a circulação de capital para custear o desenvolvimento econômico. O mercado de capitais abrange ainda as negociações com direitos e recibos de subscrição de valores mobiliários, certificados de depósitos de ações e demais derivativos autorizados à negociação.

As bolsas de valores são a face mais visível do mercado de capitais. A Comissão de Valores Mobiliários é o órgão responsável pela fiscalização e controle deste mercado.

4. Mercado cambial

O mercado cambial é composto pelo conjunto de operações de compra e venda de moedas conversíveis de diversos países. Podem ocorrer operações a prazo para suprimento de necessidades momentâneas de moeda estrangeira, como, por exemplo, para fechamento de câmbio de importações. Inversamente, podem ser adquiridas divisas por antecipação, como é o caso de exportadores que trocam reais por as moedas estrangeiras que receberão.

As operações nesse segmento de mercado são feitas sob a intermediação de instituições financeiras autorizadas, bancárias e não bancárias. O Banco Central do Brasil é o órgão responsável pela administração, fiscalização e controle das operações de câmbio e da taxa de câmbio atuando através de sua política cambial.

5. Mercado de crédito

O mercado de crédito é o conjunto de transações realizadas pelos agentes econômicos e instituições financeiras, de prazo curto e médio, destinadas ao suprimento de recursos para atender às necessidades dos indivíduos e empresas, tais como financiamento de consumo das pessoas e de capital de giro das empresas. É o mercado onde se desenvolve a intermediação financeira.

Esse mercado também é denominado de mercado bancário, e abrange as operações de empréstimo e financiamento. O mercado de crédito é dito organizado porque os agentes econômicos envolvidos atuam por meio de estruturas definidas e regulamentadas em que a oferta e a demanda de recursos possuem fluxos regulares. O Banco Central do Brasil é o órgão responsável pelo controle, normatização e fiscalização deste mercado.

O grau de complexidade do mercado de crédito está diretamente relacionado ao tamanho das economias e à velocidade de ocorrência das transações. O mercado de crédito é fundamental para alimentar a economia de liquidez, através do financiamento das vendas ou compras das empresas e dos empréstimos para os projetos de investimentos. Uma medida importante no mercado de crédito é a relação entre operações de crédito e o PIB de um país. Essa medida consegue avaliar o nível de intermediação existente em um país, e mostra o grau de endividamento global dos agentes econômicos tomadores. Podemos observar o elevado percentual de operações de crédito em relação ao PIB nos países mais desenvolvidos (Quadro 1). Esse fato demonstra a existência de fontes de financiamento para o consumo e para os investimentos que estimulam a economia. O caso do Brasil, onde a relação crédito/PIB é baixa, pode ser explicado pela escassez de poupança interna e pelas elevadas taxas de juros que inibem a tomada de crédito.

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Quadro 1 – Relação percentual entre ativos de crédito e Produto Interno Bruto

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